Crônica | Medo do escuro

 



Atenção, pode conter spoiler*

Hoje acordei com uma dúvida, martelando em minha cabeça, que não me deixou mais dormir. Eu não sei dizer se sinto mais medo do escuro ou de perder Otávio.

Certa vez, tentei explicar para uma amiga o que sinto por ele. Precisei explicar porque ninguém consegue compreender como, depois de tanto tempo, ainda o amo tanto. Realmente é difícil de entender, visto que tantas coisas aconteceram entre nós e nos separaram. Expliquei que não é tão simples como parece ser… Se eu pudesse escolher, será que escolheria esquecê-lo? Tenho certeza que não.

Não me julgue, querido leitor, eu sei que isso é um grande clichê, mas, você conhece o conceito de almas gêmeas? Provavelmente conhece. Todo mundo sabe o que são, mesmo os que não acreditam nisso. Eu não sei se acredito também, mas uma coisa posso afirmar: na minha vida, isso é bem real. Se eu te  pedir para  dizer o que sabe sobre almas afins, você irá responder que são duas metades, fragmentos de alma, que precisam ficar juntas para “ser um inteiro”. Esse conceito é errado, sabia? Não somos metade, muito menos incompletos. Somos inteiros e as almas gêmeas, ou almas afins, são dois inteiros que juntos, se complementam, se encaixando perfeitamente como duas peças de um quebra-cabeça.

Durante toda a minha vida, desde que comecei a compreender o conceito das coisas, sinto (ou devo dizer sentia?) um vazio no peito, uma busca por algo que não sei o que é, mas sei que existe. Uma procura sem fim, um desejo de me sentir inteira. Me apaixonei várias vezes, amei intensamente uma, mas nada, absolutamente nada, parecia se encaixar. Me encaixar. O vazio continuava ali, esperando e esperando por alguém que ainda não havia chegado. Até o dia em que conheci Otávio e toda a busca, toda a ânsia, todas as dores, acabaram, e tudo passou a fazer sentido.

Não me interprete mal. Eu não preciso do Otávio para viver, consigo viver sem ele (como estou vivendo), mas ele é o único homem que faz sentido, que se encaixa, que me dá a sensação de completude e preenchimento. Com ele eu me sinto viva, inteira, completa, preenchida, o quebra-cabeças com todas as peças encaixadas. Otávio é a minha linha de chegada, quem me compreende, o único abraço onde me sinto segura de verdade. Ele é a minha saciedade.

É agora que você me pergunta por qual motivo estamos separados se ele significa tudo isso para mim. Lembra do conceito de almas gêmeas? Por mais que as duas almas passem a eternidade em busca uma da outra, nem sempre ficarão juntas… Eu sou uma sortuda por ter encontrado o meu amor verdadeiro e sou uma tremenda azarada por não poder estar com ele ao meu lado. Infelizmente, as nossas escolhas erradas, provocam dores e separações.

Sobre a minha dúvida inicial? Acho que tenho muito mais medo do escuro, sabe por que? Porque viver sem Otávio é estar constantemente imersa na escuridão.


Maria Clara é a protagonista de Minha Resiliência, livro de minha autoria. Essa crônica foi inspirada na música “Fear of the dark” do Iron Maiden.

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