Amor…
Certa vez me perguntaram o que era o amor. Refleti por alguns segundos antes de responder. Ponderei, pensei e repensei, e só me veio uma resposta: dor. Meu interlocutor olhou espantado, sem entender como eu associava um sentimento tão sublime ao sofrimento, e perguntou:
― Dor?
Prontamente eu disse sim e o deixei pensar que estava passando por uma desilusão amorosa. Afinal, para muitos, isso explicaria a comparação. Ele foi embora e fiquei só, com meus botões, refletindo sobre o assunto. O pensamento me tirou o sono.
Amor e dor. Até rimam! Seria cômico se não fosse trágico.
Em minhas noites insones, ruminava o assunto por horas, me causando uma leve gastrite e desconforto. Minha mente deu voltas e mais voltas, tentando se libertar dessa ideia paradoxal, mas sempre retornava para o mesmo lugar. E esse mesmo lugar é o maior “símbolo de amor” que a humanidade conhece. E qual é o símbolo? A cruz. Pelo menos para os cristãos. Foi nela que Jesus sofreu todas as dores da humanidade; foi humilhado, cuspido, coroado com espinhos, espancado, ridicularizado, só para nos provar o quanto seu amor por nós é imenso, servindo de sacrifício vivo por nossos pecados. Olha a dor aparecendo em forma de sacrifício…
O amor tudo sofre, tudo espera, tudo suporta… Dor novamente, escondida nas entrelinhas.
Sofremos por um amor não correspondido, por amar demais, por antecipação, por ser abandonado ou trocado. Usamos como desculpa o “amar demais” para aprisionar, subjugar, maltratar.
Nós distorcemos totalmente o real significado dessa palavrinha de 4 letras, tão pequena, mas que carrega uma imensidão de significados, porque aprendemos desde cedo que o amor anda colado ao sofrimento. Isso é perigoso, pois muitas vezes aceitamos relacionamentos tóxicos em nossas vidas.
Cheguei à uma conclusão: amor não é (apenas) dor. Amor é abnegação, é entrega, é doação. É confiar ao outro, de olhos fechados, aquilo que temos de mais importante: a nossa vida. Metaforicamente falando, é como deixar alguém nos conduzir até a beira de um precipício e pular para o desconhecido.
Acredito que amar verdadeiramente é quando aceitamos as diferenças, quando entendemos que o outro tem direito de ser e pensar diferente. É quando damos espaço, respeitamos, ouvimos e abraçamos sem esperar reciprocidade. É quando fazemos algo pelo simples prazer de ver o outro feliz.
Pensando bem, acho que todos somos um pouco egoístas na nossa forma de amar e é justamente isso o que não queremos admitir.
Thaisa Lima
Texto produzido na Oficina “Por um resistência poética”. Exercício proposto por Cida Pedrosa: a partir da observação de fotos, criar um texto livre (de resistência), expressando os sentimentos que a imagem despertou. As fotos que me chamaram mais atenção foram uma coroa de espinhos e um homem carregando um cachorro nas costas, salvando o animal de uma enchente.
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