Crônica | Os Martírios

 


Os Martírios

Por Thaisa Lima

Os corpos imundos, amontoados por cima do papelão, na Praça dos Martírios, exala um fedor de urina, sujeira, desesperança e fome. As garrafinhas plásticas, com cola de sapateiro dentro, tornaram-se uma extensão dos corpos magros e não são o suficiente para aniquilar a dor em seus estômagos. Seus dias, debaixo de sol quente, resumem-se a gritos de “pega ladrão” na rua dos ônibus, no comércio de Maceió; pequenos furtos que servem para comprar mais cola e um pão seco, dividido com a turma que virou família. Mais um dia de desalento, sobrevivência e criminalidade. Mais um “cheiro” na cola, matando o corpo e a fome, aos poucos.

Existe outra realidade? Não existe oportunidade, nem sonho de princesa, muito menos a perspectiva da mudança. Quando a noite chega é a hora das meninas iniciarem o segundo turno, vendendo seus corpos esquálidos para ganhar alguns centavos e garantir a cola do dia seguinte. Depois da labuta, todos voltam para aqueles papelões mijados, compartilhando fome, calor e desalento. Naquele mar maltrapilho, os piolhos compartilham cabeças desiludidas e se saciam em um banquete farto. Pelo menos, uma das criaturas dorme de barriga cheia.


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