A Casa
10 anos. 1 década sozinha, nesse mausoléu. Uma casa decrépita, abafada, escura, claustrofóbica… Apesar de não existir trancas nas portas, não consigo mais sair. O teto que cobre a minha cabeça foi herança de um ser repugnante a quem tive o desprazer de conhecer 20 anos atrás. No início ele era doce, gentil, atencioso, um verdadeiro cavalheiro. Me apaixonei por seus olhos gentis no momento em que aquelas piscinas verdes me olharam com tanta ternura. Em pouco tempo nos casamos e fomos morar na casa. A casa… Na época era linda por fora, cobiçada por muitos, mas apenas eu descobri os segredos de seu interior. Minha liberdade acabou no momento em que coloquei meus pés lá dentro. Meu marido doce e gentil revelou sua verdadeira face e não foi nada doce o que vivi. 10 anos encarcerada, violentada, violada, atormentada, maltratada, acorrentada, espancada, quebrada. A casa? Quebrou junto comigo, escureceu, enlouqueceu, ensandeceu. Suas paredes coloridas perderam a cor, os papéis de parede rasgaram, a madeira apodreceu, os carpetes carcomidos desbotaram… Meu carcereiro, num momento de fúria, transformou a casa em meu túmulo. Meus ossos jazem enterrados no porão frio, mas eu ainda estou aqui. O corpo do meu marido apodreceu na nossa cama, depois do beijo que eu lhe dei, um dia após a minha morte. Ele sumiu, deixando apenas os seus restos mortais. Estou presa e perambulo sozinha por esses corredores escuros, sem poder sair, sufocada, enclausurada e atormentada, dia após dia, por meus fantasmas. A casa, antes cobiçada, virou motivo de repulsa, e agora que ganhei minha liberdade, ninguém vem me visitar…
(Thaisa Lima)
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