Microconto | Sedento

 


Sedento

Pensei em levantar e ir até você para tomar posse, de uma vez por todas, da sua totalidade, mas decidi ficar um pouco mais, apenas te observando.

Observar seu corpo lânguido e faceiro, ansiando por meus lábios, desperta emoções conflitantes. Quero possuí-lo, sorver tudo o que tem para me oferecer, me deliciar no frescor do teu néctar, mas me refestelo só te admirando, prolongando meu sofrimento.

As gotas de suor, descendo sobre suas curvas, percorrendo lugares que ainda não toquei, enchem minha boca de água e me provocam arrepios. Meu corpo reage ao teu.

O desejo me domina. Fico imaginando como será o momento em que finalmente terei você em minhas mãos, quando meus lábios tocarem em você e conseguir, finalmente, saber qual é o seu sabor.

Estou sedento. Meu corpo já não suporta mais o calor abrasador que te observar despertou.

Não suporto mais. Estou a ponto de enlouquecer.

Decido que chegou o momento. Levanto, vou até a mesa em que você está, agarro seu corpo suado e me delicio com o líquido gelado que você tanto desejou dar-me.

Acaricio languidamente o vidro liso, enxugando as gotas ao seu redor, e largo em cima da mesa, no mesmo lugar de antes, o copo que acabou de me proporcionar o prazer de refrescar a garganta e matou a minha sede. Enfio as mãos nos bolsos e vou embora.

Thaisa Lima

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