Microconto de Thaisa Lima
Sonhos molhados…
O carro seguia a toda velocidade, derrapando na areia fofa. O tranco forte, ao mudar do terreno fofo para o pedregoso, me fez saltar e bater a cabeça no teto. O mar se aproximava… meu coração martelando cada vez mais forte. O motorista, concentrado em seu intuito, seguia com os pés firmes, pisando fundo no acelerador. O mar, sentindo nossa aproximação, se agitou.
Os pneus, sofrendo em atrito com os corais, gritavam, fazendo força para impedir o ato insano. A água cada vez mais perto e meu desespero atingiu um nível cósmico. Olhei para o motorista, do ângulo em que eu estava, só conseguia ver o seu sorriso lunático. Tentei gritar, mas o grito permaneceu mudo em minha garganta. Estou a apenas 50 metros do meu fim.
― Não! ― meu berro ecoou dentro do espaço apertado, poucos segundos antes do choque, e do interior ser tomado por água salgada. Eu me debatia em vão… O ar faltou em meus pulmões.
Sufocando… sufocando… sufocando…
Abri os olhos, puxando ar desesperadamente, machucando meu diafragma, e percebi que a água gelada a congelar meus ossos, era xixi do meu cachorrinho que não conseguiu descer da cama. Preciso lembrar de aumentar a temperatura do ar condicionado.
Imagem de Martin Str por Pixabay
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