Miniconto | Comida

 

 

Escolheu com cuidado as espigas. Queria as mais novinhas. Após higienizá-las, descascou e com a ajuda de uma faca afiada, separou os grãos do talo. Reservou. 

Pegou seu caderninho e abriu na folha marcada, seguindo as recomendações com cuidado.  Despejou dentro do liquidificador o que acreditava ser 800 g de milho e bateu junto com 500 ml de leite de vaca. Depositou a mistura em uma peneira, apertando bem para retirar as cascas. 

Ficou na ponta dos pés e pegou no armário uma panela funda. Misturou o milho coado com 200 ml de leite de coco, 1 xícara de açúcar, 50 g de coco ralado, 1 colher de sopa de manteiga, uma pitada de sal e meia xícara de leite condensado.  Levou ao fogo e começou a mexer, devagar. Enfiou um dedo na lata do leite condensado e levou à boca, chupando o doce com satisfação.

Mexeu e mexeu e mexeu. Os braços começaram a doer. Não suportava mais a temperatura alta em sua barriga. Suor escorria por seu pescoço, seios e costelas. Era a primeira vez que preparava aquela receita. Cansou.  

Olhou para o relógio na parede, faltavam apenas 30 minutos para ele chegar. Seria uma surpresa, esse era o seu prato favorito. 

O creme borbulhante começou a soltar do fundo da panela.  Apagou o fogo e despejou tudo em um refratário de vidro. A cor, um amarelo claro, estava perfeita, igual na foto da receita. Sorriu, satisfeita com seu trabalho. Pegou em cima da geladeira um potinho cheio de canela em pó. Polvilhou por cima da canjica, dando o toque final. Deixou o refratário em cima da mesa e cobriu com um pano de prato.

Precisava tomar um banho. Antes de alcançar a porta do banheiro, a campainha tocou. 

― Droga! ― xingou baixo, procurando no vestido vermelho se havia algum vestígio da sua arte. Abriu a porta e deu de cara com lábios sorridentes.

― Surpresa! ― falou, abraçando-a.

Ele cheirou o ar como um cão farejador e seguiu o aroma inebriante. Ela foi atrás, balançando a cabeça de um lado para o outro, rindo da cena. 

― Não acredito que você fez canjica! 

Ele levantou o pano de prato e aproximou o nariz da travessa, puxando o ar com força até encher os pulmões totalmente. Exalou com satisfação e virou-se para ela, segurando-a pela cintura. ― Estou morto de fome.

Ela enfiou os dedos nos fartos cabelos da sua nuca e ele cheirou seu pescoço, mordiscando a pele suada.

― Você cheira a milho. ― falou com a voz abafada, deslizando a língua pelo pescoço dela. Olhou-a com olhos lascivos. ― Isso aumentou a minha fome.

A segurou pela bunda, puxando-a para cima. Ela entrelaçou as pernas em sua cintura, colando as bocas famintas. As línguas se devorando em uma dança sensual. Foi carregada para o quarto. Naquele momento ele esqueceu o prato principal na mesa da cozinha e se fartou com a sobremesa na cama. 

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