Boneca Barbie
Um conto de Thaisa Lima.
Ela trabalhava concentrada em sua mais recente criação. Foi difícil encontrá-la, levou 6 meses para achar uma garota que se encaixasse no que buscava. Sentiu um prazer incalculável quando finalmente a encontrou. Todo o trabalho foi compensado no exato momento em que prendeu a garota dentro daquele sótão velho. Agora ela era só dela.
O joelho esfolado doía, resultado do pequeno deslize ao pular o muro segurando o corpo. O muro do cemitério era alto e à meia-noite estava escuro como um breu. Ela tinha sorte da sua casa ser ao lado do cemitério, isso facilitava muito as coisas, pois podia passar sem ser notada. Não enterraria o corpo lá, ela tinha seu próprio lugar especial. Esticou a perna para dissipar a leve dor e virou o corpo adormecido dentro da banheira.
A garota estava nua. Seus enormes cabelos negros caiam como cascatas em suas costas de pele morena reluzente. Os seios em formação davam o vislumbre de um futuro busto farto. Com certeza enlouqueceria homens e mulheres. Estava salvando a garota de uma vida cheia de problemas. Passou o sabonete gasto entre os pequenos botões e deslizou-o até a penugem rala no meio de suas pernas, lavando bem o corpo de uma menina-mulher. “Ela é perfeita.”, pensou enquanto acariciava os pequenos lábios, e sorriu, excitada. A garota se remexeu na banheira, dando indícios de que estava prestes a acordar.
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Ela a pegou nos braços, o corpinho leve como uma pluma, e depositou-a na mesa de trabalho, no centro do sótão fétido. Prendeu os pés e as mãos da garota, deixando braços e pernas bem abertos. Ela se contorceu, abrindo os olhos, a visão turva, desnorteada. A última coisa que a menina lembrava era de estar brincando com sua Barbie na pracinha e uma mulher muito bonita se aproximou sorrindo, pedindo para ver a boneca. “Bem na hora, meu bem” falou docemente.
A vítima virou em direção à voz e reconheceu a mulher. Tentou levantar, mas as amarras a impediram. Assustada, olhou para os lados e não reconheceu o lugar. Começou a hiperventilar em pânico e o cheiro de carne podre penetrou fundo em suas narinas. Lágrimas encheram seus olhos e tentou gritar, em vão. Uma mordaça a impedia. A lâmpada velha pendurada sobre a mesa piscou. Ela olhou para o lado e viu… Bile subiu por sua garganta, a fazendo engasgar. “Calma, criança. Daqui a pouco você fará companhia à elas. Tá vendo aquele lugar ali? Guardei especialmente para você.”
Os olhinhos da menina saltaram das órbitas. O lugar apontado era macabro. A parede projetada em forma de caixas de bonecas, continha dentro de cada espaço uma monstruosidade: cadáveres em decomposição; meninas-Barbie. Ela seria a “Barbie veterinária”, ironicamente igual à sua boneca.
A Assassina de Barbies sorria enquanto espetava a agulha da seringa no braço fino. Conforme o líquido invadia a corrente sanguínea, a menina viu: as “bonecas” estavam chorando. Seus corpos e suas almas estavam presos naquela casa macabra para sempre.
Imagem de Alexas_Fotos por Pixabay
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